Powered By Blogger

domingo, 29 de maio de 2011

Velha bruxa.

O velho casarão de paredes
verdes descascadas ostentando
retratos em preto e branco
de pessoas mórbidas
sobre as manchas escuras de
infiltração.


Lá mora uma velha corpulenta
comprimida num antiquado
vestido verde de cetim,
sua cabeleira ruiva muito armada,
sua boca vermelha empetecada
de bâton,
seus enormes cílios postiços e
a sombra escura sobre os olhos
me dão medo.
Uma velha prostituta demoníaca.
uma alcoviteira do diabo,
ela ri alto em tremendas gargalhadas
as únicas que há aguentam
são as moscas que vivem ao seu redor.
A escada de madeira range,
range
quando sobe a velha-feia,
bruxa má de nariz adunco
verruguenta.


Move-se de forma estranha
muito rápida,
muito lenta.


Há sapos em seu jardim,
salamandras e
serpentes.
Crias de Tiamat.


Velha bruxa,
macumbeira. 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

INACESSíVEIS.

Parei no último bar aberto da
cidade.
Tomei uma dose de uísque vagabundo
e parti com meu cigarro acesso.
A fumaça expelida pelos meus pulmões
saiam densas como brumas sobrenaturais
de algum pântano fantasmagórico;
fumaças que me transportavam para
mundos alienígenas.

Ruas desertas,
monótonas,
abandonadas.

Passei por lojas fechadas e
suas promoções inacessíveis.
Lanchonetes as escuras e
seus lanches inacessíveis.
Bancos trancados e
seus tesouros inacessíveis.
Bancas de jornais com suas
portas-de-aço abaixadas e
suas informações inacessíveis
Casas com suas janelas e portas trancadas,
luzes apagadas e
seus moradores anacessíveis.

Um gato arreganha os dentes pra mim num chiado.
Eu era só um fantasma deslizando na
noite.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

QUEM GANHAR LEVA.

O lugar estava
lotado.
Pessoas de todos os tipos,
de todo as as crenças,
de todos os estilos,
com todos os cortes de cabelo,
cores e
penteados.
 
A musica eletrônica bombardeando minha
mente com suas repetições
alucinantes.
Minhas retinas bombardeadas pelo
jogo de luz.
Minha corrente sanguínea inundada
por cerveja e
whisky com energético.

Eu paro na fila pra pegar cerveja.
Estou acompanhado,
abraço minha garota por trás
esperando nossa vez de sermos atendido.

Pessoas passavam voando sobre nós
presas por cabos.
Mulheres lindíssimas vestidas de vermelho
cuspiam fogo em plataformas elevadas.
Copos de vodka são tingidos com
coca-cola.
Malabaristas com colans coloridos
jogam seus pinos
para os ares.
As pessoas passam rindo,
beijos são dados,
palavras são gritadas no ouvido.
As adolescentes e seus gritos insuportáveis.

Então eu olho para o lado e vejo uma garota me
encarando.

CÂMERA LENTA. APERTE PLAY PARA
REPRODUÇÃO NORMAL

A garota abre um sorriso e vem em
nossa direção,
seus olhos não desviam dos meus.
Ela para ao meu lado
me olhando nos olhos com intensidade e
tira o cigarro que eu sustentava
na boca.

Ela dá um longo trago no meu cigarro
e o devolve na minha boca.

PLAY

Um par de mãos pequenas, mas com garras
afiadas e destino certo passa por mim.
É minha garota, e está
furiosa.
Há principio eu pensei em
deixar as duas sair na
porrada,
tipo:
quem ganhar leva.
Mas isso provavelmente
acabaria com minha noite.

Com os braços ainda em sua cintura,
eu só a ergui e a virei para o outro lado
para evitar que minha garota e
suas garras leopardicas acertassem
a jugular da garota.
"PUTA!" gritou minha garota furiosa,
e a outra foi embora com seu sorriso cínico
e meu cigarro.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

A ULTIMA NOITE.

      Os confetes e serpentinas que caíram como chuva colorida de alegria durante quatro noites agora se amontoavam nas sarjetas descolorados e amassados.
   Todas as cervejas já haviam sido tomadas, todos os lança-perfumes sorvidos, latas amassadas, garrafas vazias e pontas de cigarro se amontoavam nos lixos junto à mascaras e colares havaianos. A rua ainda estava cheia, foliões trôpegos e embriagados dançando com os braços abertos, o sorriso paralisado em seus rostos, casais se esgueirando em cantos escuros, beijos alcoolizados. Corpos saturados.
   
     Era a ultima noite de Carnaval.
   
     No meio da praça eu dava meus últimos passos da marchinha que se repetira incansável durante as quatro noites. Durante anos...
     Meu corpo esgotado e, pairando sobre ele, estava minha alma, leve como um balão inflável. Foi então que eu há vi. Já há tinha visto nas outras noites, já havíamos nos olhado, mas por algum motivo indizível e inexplicável não nos falamos.
      Ela estava ali parada, como se estivesse me esperando, esperando pacientemente que eu gastasse toda a euforia carnavalesca para então dar atenção só para ela. 
     Ela era magrinha de uma beleza singela, aparentava ter uns quatorze anos, mas já tinha dezenove e, empolgada, falava sem  parar sobre a faculdade de Turismo que estava cursando enquanto afastávamos dos foliões remanescentes e nos enfiávamos nas desertas ruas da pequenina cidade.
     Ela falava sem parar, sempre muito animada, contava-me seus sonhos para o futuro e  de como iria partir daquela cidadezinha. Eu, como o bom ouvinte que sou,  ouvia tudo sem prestar atenção em nada.
     Paramos numa praça deserta e quando ela  parou para tomar fôlego entre um milhão 
de palavras e outras, nos beijamos. Foi um beijo intenso e molhado, como se ela não fizesse isso a muito tempo ou  estava muito afim. Nós andávamos, ela falava, eu ouvia, nos beijávamos.
     Era uma garota muito legal.
     Até que chegamos numa rua sem saída com uma mureta que bloqueava a rua, pois atrás passava imponente o rio Paraíba com suas águas turvas e pesadas. Ali ficamos, sob a proteção do caudaloso rio sentados num banco de madeira rusticamente montado. Olhei para seu rosto de anjo, olhei sua boca incansável de sorriso fácil, olhei para seus seios pequenos e perfeitamente redondos, olhei para suas pernas juvenis com o short largo ao redor das coxas... Nos beijamos... Minha mão atrevida deslizou pela coxa lisa e macia rompendo facilmente a fronteira do short e alcançando uma parte mais úmida da pele, e então, pela primeira vez, ela ficou quieta, deliciosamente quieta derretendo em minha mão.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Santo Cruzeiro

Aqui,
do alto do Santo Cruzeiro,
eu vejo toda a cidade.

Um velho de longas barbas brancas
e longos cabelos brancos
sai sorrateiramente coberto por capas
cinzentas
deixando-me só sob o crucifixo.

Lá em baixo eu vejo toda a cidade e todas
as pessoas da cidade.
Lindas garotas muito bem vestidas
atraem garotos sorridentes com suas blusas
de moleton e bochechas rosadas.

Os carros passam trepidando por ruas de paralelepípedo.
As bicicletas passam.
O tempo passa.

Mas não é esse tipo de gente que eu procuro,
os que eu procuro são de um tipo
mais raro de pessoas.

Eu procuro por aqueles que são um risco na superfície polida
aqueles que caminham mais perto dos muros
aqueles que tem os olhos mais frios
e os corpos mais quentes
aqueles que tem hálito de dragão
os que não desanimam
os que preferem ficar calados
mesmo tendo tanto o que falar.

Procuro por aqueles que não riem à-toa, mas
sabem se divertir
procuro por aqueles que são mais sóbrios em suas maneiras,
mas tem a mente embriagada, louca, alucinada
os que gostam de anda sozinhos
os que te olham nos olhos
os que escutam

Procuro por aqueles que ainda não foram adestrados.

 O dia está nublado
hoje.


A MODA

A moda foi inventada
pelos feios
e
abraçada pelos
fúteis.

terça-feira, 17 de maio de 2011

NÃO ACONTECE SÓ COM AS MULHERES.

Acordamos nos esfregando um no outro.
Minha garota ainda estava sonolenta,
mas sua mãozinha já trabalha com
vontade em mim debaixo do cobertor.

Minha mão correu por baixo de seu pijama 
com personagens animados
até alcançar os macios e alvos seios 
revelando assim o caminho para 
minha boca salivante.
Enquanto eu degustava seus fartos peitos,
minha mão ousada arrancava calça e calcinha de
uma só vez
revelando suas coxas 
grossas e quentes
sua bunda carnuda.

Como um gatinho lambendo seu leite morno num pires,
lambi minha garota sorvendo-a.
Ela abriu as pernas lentamente
e ergueu a cabeça num gemido suave.
Sua mão agarrou meus cabelos
enquanto a outra massageava o mamilo rijo
do próprio seio descoberto.

Enfio meu dedo em sua boca sem parar de chupá-la
e ela morde e chupa meu dedo
gemendo e se retorcendo.
Seu quadril se mexe cada vez mais forte socando minha
cara amassada.
Sua respiração ofegante.
Os músculos de minha língua queimam.

Ela agarra meus cabelos com força puxando contra a vagina
úmida
e, delirante, solta um gemido intenso
quase que sofrido.
Ela fecha as pernas encolhendo-se em
posição fetal.
Há um sorriso de satisfação em seu rosto
suado,
as maçãs do rosto coradas.
Ela fecha os olhos e adormece.

Fiquei na mão!

Então eu levanto, acendo um cigarro
e vou terminar sozinho o que começamos
juntos. 

Coisas estranhas.

Estou seminu sentado confortavelmente
na poltrona do escritório da minha chefe.
Nós acabamos de transar.
Ela é minha ex-esposa.

Nós nos separamos quando ela descobriu
que eu estava trepando com a irmã dela.
A irmã dela é idêntica a ela.
E agora eu estou traindo minha amante,
irmã da minha ex-mulher,
com minha ex-mulher.
É como transar com a mesma pessoa.

A irmã-amante, que também é minha chefe,
descobre.
Fica puta.
Me demite.

Um astro de Hollywood se diverte com a cena.

Lá fora uma ferida no meu flanco direito
me incomoda.
Cutucu.
Arranco a casca sem sentir dor.
Meu dedo indicador entra sob a pele como
o dedo de Tomé em Cristo no quadro de
Caravaggio.

Um fazendeiro gordo e sorridente
se empolga ao me mostrar um enorme cavalo.
Ele deve ser o deus-cavalo, pois é
o maior cavalo que já vi.
Passa lentamente no alto do terreno da fazenda
encobrindo as montanhas ao fundo
e os trens de carga.
Sua pelagem é cinza e longa e
no lugar da crina
há uma juba modelada, parecida com a
de um leão de tradição chinesa.
Ele passa soberbo e altivo,
muito alto mesmo
e todos se maravilham com
o deus-cavalo.

No jantar devoro um belo e tenro frango-assado
e enquanto corto e devoro sua coxa,
o frango-assado começa a reclamar indignado,
pois acha um absurdo que comam o dorso dele.
"Os membros tudo bem, mas o dorso é 
uma falta de respeito", ele esbraveja.  

Fico enojado de estar comendo um
frango-assado-falante,
mas preferi não demonstrar
para não ofende-lo ainda
mais.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Agradecer???

"Você reclama demais!" Eles dizem.
"Você deveria agradecer a Deus pelo que tem."

Então eu penso no meu emprego.
Olho pro meu carro.
Vejo a goteira no teto.
Vejo o chuveiro queimado.
Acesso minha conta bancaria.
Vejo as infindáveis contas a pagar.
Vejo minha cara no espelho.

Se eu agradecesse estaria mentindo! Respondo.

Eu não poderia mentir pra Deus.
Afinal,
Ele saberia.

Eu sei pelo que agradecer.

A barata.

Acordei de madrugada com o
grito irrecusável da natureza.
Corri para o banheiro,
mas quando acendi a luz que
ilumina todas as coisas
da noite.

Lá estava ela
horrível ser de espádua enorme
de um marron avermelhado
de um brilho pálido.

Ela estava ali,
estática
com suas enormes antenas
movendo-se aparte
como se tivesse vida própria.

A maior barata que já vi na vida

Encarei a barata-monstro
com horror e repugnância.
As patas tortas e finas precediam
as coxas grossas e fortes,
serrilhadas.

Ficamos parados a nos encarar.
Meus membros tensos,
os olhos arregalados
e ela tranquila.

Pensei em despejar todo o inseticida
disponível na barata,
mas não haveria inseticida suficiente
para ela.

Pensei em esmagá-la com minhas havaianas,
mas não haveria havaianas fortes o suficiente
para ela.

Ela estava ali, parada
tranquila
eu apavorado
eu a encarei
ela me encarou

Então,
fechei a porta rapidamente e
voltei para a cama torcendo
para ela não estar ali
de manhã.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

MEU ANJO RAFAEL.

Chego e inclino meu
corpo sobre o corpinho dele.
Seus grandes olhos castanhos me
encaram por alguns segundo com
extrema atenção.
E como se o próprio sol se abrisse
pra mim,
vejo seu sorriso exuberante se
desabrochar na alegria de me ver
e então, aaah, não há como explicar.

Existem muitas formas de alegria.
A alegria de uma nova experiência
A alegria de reencontrar um amigo
ou parente.
Ou a alegria de não encontrar.
A alegria de um dia especial.
A alegria de um amor.

Mas não há alegria igual a de ter um filho.
É uma felicidade transcendente,
espiritual.
Uma felicidade angustiante,
sufocante,
dolorida,
que faz com que um homem se torne algo
melhor.
É como se Deus tocasse seu coração e
sua alma se iluminasse.

E tudo o que você pode fazer,
é dedicar toda sua vida
a ele.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

NÃO ME LEMBRO DE DAR ADEUS.

Eu não sei dizer se naquele dia estava sol,
não sei se estava frio ou nublado,
não me lembro nem ao menos que dia era.
Eu tinha doze anos.


Olho para o Bar ao qual passei a maior parte
da minha infância.
Coisas que foram usadas durante anos
estão amontoadas num canto,
pois já não servem mais,
o resto empacotado e colocado dentro de um
caminhão baú.


Não me lembro quem mais estava ali naquele dia
lembro-me apenas do meu pai sentado num degrau
enquanto eu pegava um porrete escrito
"pau de amansar lobo" e começava a
destruir uma gondola da cigarros da
Sousa Cruz.
Era norma da empresa destruir suas gondolas
quando essas não fossem mais ser usadas
já que a empresa não vinha recolhe-las.


Lembro-me muito pouco daquele dia,
ou quase nada pra ser mais exato.
Mas lembro-me de que destruir a gondola era
mais difícil do que eu imaginara.
Cuidado com os olhos, disse meu pai.


Não me lembro de muita coisa daquele dia,
mas lembro-me bem dos anos
em que trabalhei com meu pai em seu Bar.
Lembro-me do cheiro do álcool,
do tamanho da dose e
do som da cachaça caindo no copo americano.
Caía lentamente espalhando a umidade
restante do copo,
os olhos ansiosos do cliente esperando a
dose ser completada,
as mãos tremulas e vacilantes.
A cachaça era bebida de uma só vez
seguida de uma careta e
lábios úmidos apertados.
Mãos firmes.


O freezer cheio de cerveja gelada,
agora
estava desligado e vazio.
Ninguém iria me pedir uma cerveja gelada naquele dia
Ninguém iria me pedir mais uma dose
Ninguém iria me pedir um tira-gosto
Ninguém iria me pedir...

Não me lembro se era de manha
ou a tarde.
Mas lembro-me dos clientes e
seus nomes peculiares:
Preto, e sua fobia de cobras.
Um dos meus preferidos.
Paulo Pelota, pescador do rio Paraíba
comeu o gato de estimação do Bar.
Ele não podia ver um gato...
Severino, um homenzarrão forte como
um touro,
mas bobo feito uma criança.
Tião, cobrador de onibus
nunca deixava eu pagar a passagem
quando estava na roleta.
Onésio e sua CB-400 rasgando as ruas de
paralelepípedo da Vila Batista.
João que teve sua mente destruída pelo alcoolismo.
Tião "Chacoaia", mulherengo de plantão.
Manézinho com seu facão na cintura e montado
em seu cavalo que o leva para casa sozinho
quando estava bêbado demais para guiá-lo.

Lembro-me de todos eles e de muitos outros.
Pessoas com as quais eu cresci.
Eu conhecia todos os bêbados,
vagabundos,
e marginais da redondeza.
Muitos eram apenas trabalhadores
ou alcoólatras que nunca fizeram
mal nenhum a ninguém
a não ser a si próprios.
Muitos morreram,
outros ficaram loucos
ou viraram evangélicos.

Não me lembro de quase nada daquele dia,
não me lembro de me despedir,
lembro apenas de estar de pé na calçada
e ver o Bar, que eu passara toda minha
infância com meu pai,
fechado.

Lembro-me de ver o caminhão baú do
Tuba se afastando com todas as coisas
que deveriam estar dentro do Bar
e junto com elas estava meu
pai.

Wagner R. Souza

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Tontura

Estou tonto...
O que será que
bebi?
Pés e mãos gelados.
Tudo doe.
Minhas costas doem
meus pés e minhas pernas doem.
Rolo de um lado a outro da cama,
mas não acho posição confortável.
Sinto minhas costelas sendo esmagadas pelo meu peso
contra a porra da cama dura e cheia de buracos.

Tudo está disforme.
Tudo imperfeito.
Feio.
Vejo cores fortes que não combinam
não se complementam.
Estão misturadas
rachadas
rasgadas
rasuradas.

Enormes rachaduras impedem
minha passagem.
O gosto de sangue misturado a
poeira deixa minha boca seca,
sinto muita sede,
mas nada parece saciá-la.
Meu nariz coça tanto que chego a esfolá-lo.
É esse maldito cheiro de mofo no ar.

Aperto os olhos e puxo meus cabelos
para trás
olho em meus ombros e vejo os longos fios que caem
aumentando minha calvice inevitável
calvice progressiva
hereditária.

Meus olhos ardem como brasa.
Olho um reflexo num espelho trincado.
Não me reconheço,
não pode ser eu.
Parece mais um boneco,
um fantoche.

É isso! Um fantoche!
Não consigo destinguilo direito,
mas parece um homem.
No entanto vejo perfeitamente as cordinhas
em seus membros.

Alguém ai em cima...
hei!...
por favor...
Mexam as cordinhas,
levem-me até a janela.
Eu preciso respirar.

Sinto tanto sono....
Mas não consigo
dormir.


A GUERRA DOS MACOS-ESPACIAIS

Lagartos e lagartixas.
Lesmas coloridas.
Aposto num cavalo de corridas manco
que chega em primeiro lugar,
mas é desclassificado,
pois cavalos mancos não podem correr.
Uma mão pra duas pistas.
Emaranhado de noticias.

Nas ruínas da escola eu me encontrei,
todos olham sem entender.
Esta escuro,
está de dia,
está escuro.
Estrela cadente cai em brilho ardente
no céu escuro do meio-dia.
Alguém acende uma lamparina.
A fanfarra passa em silêncio para não
acordar toda a gente;
dormem, dormem o sono inocente.
A procissão vem logo atrás,
mas trazem um Jesus bem mais contente.

Pessoas moram em crânios de gigantes antigos
que se amontoam nas paredes de uma fenda.
Lá em baixo corre um rio de águas azuis e cristalinas,
mas a terra e vermelha.

A estrela cadente que caiu era uma navespacial pilotada por um
chimpanzé.
Agora os operários protestam, pois os chimpanzés dominaram
o mercado de trabalho manufaturado.
Trabalham até doze horas por dia em troca de bananas
e uma árvore para trepar.
É o começo da guerra dos macacos-espaciais.

domingo, 8 de maio de 2011

13h

O sol das 13h parecia querer cozinhar
todas as pessoas que andavam nas ruas.
E eu,
sentado na sombra fresca de
uma lanchonete tomando minha cerveja gelada.
A tarde dos dias de semana podem ser bem animadoras
quando você não tem obrigação nenhuma.

Lindas garotas passavam pra lá e pra cá
satisfeitas com seus almoços rápidos
e pouco nutritivos do curto horário de refeição
dos seus trabalhos enfadonhos.
E eu sentado tomando minha cerveja.
Elas passam em duplas com seus cabelos soltos
embalando meus sonhos sob o sol escaldante,
peles oleosas,
abanam o rosto com papeis de contas
a serem pagas,
passam em duplas conversando sobre
alguma banalidade
ou sobre seus chefes babacas
ou clientes insuportáveis,
a maioria trabalha no comércio local.
E eu e minha cerveja solitária na sombra.

Outras passam colocando seus cabelos atrás
da orelha,
falam ao celular ou simplesmente
olham para o chão com seus rostos apáticos.
Eu e minha cerveja observamos todas com atenção.

Meninas jovens e alegres passam com seus uniformes
rindo despreocupadas
com o final de mais um dia de aulas.
Garotos imaturos vão atrás falando alto e
fazendo algazarras para chamar a atenção
das meninas que os ignoram.

E eu e minha cerveja solitários na lanchonete vazia
olhando as calçadas cheias de gente passando.
Ascendo um cigarro para nos acompanhar.
E as garotas passam.
E nós olhamos. 

sábado, 7 de maio de 2011

Eles acreditam...

Eles acreditam em Adão e Eva
Eles acreditam na Arca de Noé
Eles acreditam no Mar-Vermelho
Eles acreditam que Jesus transformou água em vinho
Eles acreditam que Ele andou sobre as águas
E acalmou tempestades
Eles acreditam que Ele curou cegos cuspindo em barro
e passando sobre seus olhos.
Mas ignoram uma única frase
que se fosse seguida
transformaria o mundo no paraíso
prometido:

"Amai o próximo como a ti mesmo."

Eu devo ser um tolo mesmo
O que é uma frase diante de tantos
efeitos especiais.

W.R. Souza

ESSAS GAROTAS MALUCAS.

   Agora, sentado nesse estranho carro eu me pergunto, "que merda estou fazendo aqui"? A loira ao meu lado fala sem parar, mas eu não presto atenção em nada, minha cara flácida de olhos murchos está dormente de tanta cerveja. Acendo um cigarro, ela me pede um. Do lado de fora do carro, nessa maldita estrada deserta e escura, onde sei lá como eu vim parar, vejo um completo idiota brigando com uma morena
linda. Sua bunda perfeita empina toda vez que ela esbraveja algo apontando o dedo na cara do otário. Ao meu lado a loira fala soltando fumaça de cigarro, eu só observo a amiga dela lá fora brigando com o namorado. Eu deveria estar com ela.
   Há algumas horas essa era a ideia, encontrei as duas num bar, eu logo me excitei pela morena. A loirinha por mim. Não que ela fosse feia, mas não era bonita como a morena e seu narizinho arrebitado, sua bunda arrebitada, os seios arrebitados... Por falar em peitos, a loirinha tinha belos, grandes e macios peitos, aos quais só fui saborear no nosso segundo encontro. Mas minha intenção era a morena. Até ligar o namorado. Maldito namorado! Eles tinham brigado, sei lá. Só sei que ele queria encontrá-la. Eu nem me lembro como vim parar nesse carro... nessa estrada.
   A língua úmida e quente da loira entra pela minha boca quase chegando ao meu esófago e nós nos beijamos envoltos por nuvens de fumaça de cigarro. Paramos para tomar fôlego e ela diz, "tá vendo aquela montanha?"
   "Hã!" respondo.
   "Lá tem uma casinha de madeira onde mora o diabo."
   "O quê?!"   
   Ela voltou a me beijar.

   Uma semana depois voltei a encontrar a loirinha no mesmo bar sagrado onde frequentavam os anjos. Ela estava só. Ficamos bêbados juntos. E numa praça encantada com seus carrosséis, balanços e chafarizes desligados começamos a nos devorar. Fomos para a casa dela.
   No sofá havia uma boneca velha horrível com os cabelos loiros todo engruvinhados e cheio de falhas onde podia-se ver os furos de suas raízes artificiais. Os olhos azuis arregalados e brilhantes e um sorrisinho ingênuo nos infantes lábios. Encarei a boneca. A garota foi pegar mais cervejas. A boneca me encarou. "Cuidado que ela te morde." Disse Garota maluca.
   Fomos pra cama, ela gritava escandalosamente,  "eu não vou aguentar", ela gritava.
   Quando acabamos o sol de um belo domingo estava nascendo, velhinhos indo a missa, crianças se preparando para ir ao parque, e eu com uma baita dor de cabeça ouvindo seus planos para irmos acampar na praia qualquer dia desses. É claro, eu disse.
   Na segunda-feira eu me mudei da cidade. Eu nunca mais vi a morena. Já a loira, muito tempo depois eu a encontrei numa festa agropecuária, ela estava chapada mijando no mato. Ela nem me reconheceu. E eu não lembro o nome delas. 


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Madrugadas

A madrugada estava fria
após uma noite quente.
Agora
eu caminhava sozinho,
pois todos meus amigos se
perderam na
noite.
 Cada um a sua maneira.

Eu me enrosquei com 
uma garota de cabelos
negros.
Longos e cheirosos cabelos
negros
 um sorriso jovial.

Naquele tempo eu andava à
pé.
Todos nós
 andávamos.

Eram dias mais seguros.

Não havia mais ninguém nas
ruas,
salvo raros andarilhos que
passavam despercebido por mim.
As casas as escuras.
Um cachorro
me olha velhaco
enquanto remexe o
lixo.
 Meus passos ecoam
misteriosos
pelas ruas sob postes de luzes
pálidas.

É preciso estar em paz
para caminhar assim
e minha cabeça parece um
Paraíso.
Superando totalmente o
cansaço físico.
Os passos vacilantes são
resultado da embriagues:
muita cerveja e conhaque
e algumas doses de
Blue Curassau com
soda limonada para atrair
garotas com sua cor viva
azul-celeste.

Amanhã
encontrarei meus amigos
e todos os mistérios da
noite serão
revelados.

Ah! Aqueles eram tempos mais
                            simples.                             

O Bar.

Cercado por bêbados rotos
e escandalosos
numa atmosfera condensado e densa
de cachaça,
o ar é uma nuvem de fumaça
de cigarro que paira sobre nossas cabeças
como um céu Miltoniano.
O cheiro de cachaça e cerveja choca
impregnado em paredes
meadas de azulejos amarelados
com sua pequenas flores azuis.
Homens morenos sem camisa
de barbas grossas
sorrisos sem dentes
cabelos mulatos desgrenhados
e sem corte.

A conversa soa altíssima e estridente,
gargalhadas
palavrões
insultos.
Abraços em peitos nus.
Mãos vacilantes estalando
em costas suadas.
O barulho da cachaça tilintando
em copos vazios e sebosos.
O abridor deflorando mais uma garrafa de
cerveja.
"A mais gelada que tiver"
Bêbados.
Todos embriagados e superagitados
vacilantes.
Os olhos inchados
o rosto vermelho
cozidos
tira-gostos fritos nadando em
gordura saturada são devorados
com ferocidade.
loucos viajantes de mundos
oníricos.
Delírio e fé na correntinha de São Jorge
que balança com seu cavalo e seu dragão
sobre tufos de pelos peitorais.

Personalidades instáveis
o controle é incerto à essa altura.
Ah! Uma briga!
A garrafa se espatifa no chão
eles abrem os braços, esbravejam.
Logo estarão todos rindo e se
abraçando de novo.

É assim todos os finais de semana.
Eles precisam extravasar suas vidas
horríveis
mulheres
horríveis
famílias
horríveis

Há uma certa altura você não ouve
mais nada além de um
zumbido abafado.
Anjos caídos com cabeças
de dragão e hálito de fogo
Tiveram suas asas cortadas logo sedo,
mas lhes ensinaram a cuspir
fogo.
Bêbados e loucos

Alguém passa na calçada e faz sinal
com a cabeça.
Algo mais forte vai rolar.
Insaciáveis.

Eu era só uma criança.

terça-feira, 3 de maio de 2011

BARES

   Já andei por muitos bares, mas aqueles bares de periferia onde mal a lugar para se sentar e os fregueses ficam debruçados no balcão sobre suas bebidas e você pode ver nos cantos, bêbados com olhos perdidos em outros mundos, em dimensões longínquas, onde só ele sabe o caminho. Nesses bares você pode facilmente encostar num canto e beber solitário sem ser incomodado, ou então se enturmar facilmente com os outros fregueses, mas, tão fácil, pode arrumar uma briga daquelas e até , quem sabe, tomar uma garrafada na cabeça. Bêbados são muito sensíveis!
   Mas independente do que aconteça nesse tipo de lugar todos são sinceros com você, e pouco importa como está vestido ou onde mora ou ainda quanto ganha, mas estão todos interessados em ouvir como é seu trabalho, e o que você faz nele, ouvem com atenção seus problemas e contam os deles e também seus sonhos, e você pode testemunhar historias incríveis contadas por velhos bebuns em seus tempos de glória pueril contadas com emoção extra e também algum exagero, mas os fatos, propriamente ditos, pouco importam, o que realmente importa é a filosofia dos bares, dos homens, dos bêbados e dos vagabundos; daqueles que realmente vivem no mundo real.     

De noite.

Eu gosto mesmo é
de caminhar de noite.
Gosto do cheiro
da noite.
Cheiro de dama-da-noite.

De noite, todos os seres estranhos
saem de seus esconderijos,
coisas estranhas,
húmidas.

Jovens bruxas dançam nuas
sob o luar.
Corujas cantam.
A menina (fingindo dormir) desliza
sua mãozinha pequena sob o 
lençol suave para descobrir
prazeres.

Existem prazeres que só a
noite conhece.
Só ela permite.
A dona-de-casa recatada tranca-se
no quarto.
Respirações ofegantes são ouvidas.
Cheiro de dama-da-noite.
Prostitutas nas esquinas sempre
sorridentes.

Bêbados em bares, vagabundos 
nas ruas.
Noites embriagadas.
Loucos casais em quartos
baratos,
em carros,
em cantos 
encantos.
Cheiro de látex e suor.
Baratas, mariposas e ratos.
Fluidos são derramados mais
facilmente de noite.

Caçadores saem atrás de suas
presas que se deixam caçar.
Os anjos escondem as asas.
A noite não é para os castos.
Nem para os puritanos e hipócritas.

A noite é libertina.
A noite é embriagues.
A noite,
de noite.
Que noite!
  
W.R. Souza

Poema N. 1

Quando eu vejo a água escorrendo
pelos rejuntes largos de pisos
antigos.
E o encontro e desencontro
de fios d`água com sabão.

Ao longe vejo automóveis
e o sol
queima meu rosto frio.
E eu me sinto com se estivesse
enforcado, preso, querendo fugir.

Mas meu corpo já
não me obedece mais,
e meu ultimo sinal de vida
é uma lágrima que corre em meu rosto
pálido... pálido... pálido...

E é logo seca pelo
sol.
Eu quero gritar,
mas o som não vem...
acho que morri e não vou te ver mais!

Wagner R. Souza

Retorno a Sonhar



A lua pálida se esforçava para vencer o céu nublado daquela noite, e mesmo assim, sua luz iluminava fracamente o quarto de um garoto que dormia confortavelmente na segurança de seu lar. Mas havia algo que mudaria suas noites de sono, no entanto, isso não era novidade para ele, ele apenas não se lembrava.

- Daniel... Acorde Daniel... – Lentamente os olhos do jovem Daniel foram se abrindo sem entender porque o despertava. Ele tentava por em ordem seus pensamentos e focar com olhos embaçados aquele que o acordava. E quando conseguiu, surpreendeu-se.

Lino?! – Disse ele espantado, mas de alguma forma aquilo também não era novidade.

Olá meu amigo, há quanto tempo... – Disse sorridente o esguio e azulado coelho de pelúcia que Daniel ganhara há muitos anos atrás e que há muito estava desaparecido.

- Não, não, não, não... – Começou a repetir convulsivamente Daniel virando-se para o outro lado e apertando os olhos achando que assim ele desapareceria, mas quando abriu um dos olhos para ver se o coelho havia desaparecido, esse ainda estava ali com um enorme sorriso no rosto azul.

- Nós estamos com saudades meu amigo, você nos faz muita falta. Amanda me enviou, e com muito esforço consegui chegar até você, não foi fácil escapar do alto do guarda-roupa dos seus pais. Eles me trancaram numa caixa sabia?! – Disse o coelho indignado.

- Isso é só um sonho, não pode ser verdade. Mas... eu não sonho! – Disse Daniel para si mesmo.

- Ora, então vamos sonhar meu amigo. – Respondendo assim o coelho Lino saltou por cima da cama e pegou uma lata de tinta e rapidamente começou a pintar a parede para desespero de Daniel, e quando esse chegou até o coelho, viu, pintada na parede, uma porta. – E então, vamos?... – Rapidamente Lino agarrou o pulso de Daniel sem dar tempo de reação e os dois entraram pela porta pintada na parede. O coelho rindo de alegria. Daniel com olhos esbugalhados olhava seu quarto ficar para trás rapidamente aos tropeços.

- Olhe por onde pisa meu amigo, não sabemos onde isso vai dar. – Falou Lino apontando o abismo escuro abaixo.

Eles percorreram por uma escadaria sem fim que subia e descia fazendo voltas como uma estrada sinuosa no meio do nada, pois só o que havia ali eram degraus e mais nada, nem em cima nem em baixo, apenas degraus e o vazio.

Era assim no principio, Daniel sonhava todas as noites. Sonhos incríveis em um lugar onde vivia aventuras que só poderiam ser vividas lá, com amigos que ele só encontrava lá. Ele já não se lembrava mais daquele tempo, um tempo feliz que havia sido tirado dele por seus pais, não que eles fossem maus, pelo contrario, seus pais o amava muito. Eles só não entendiam.

Daniel começou sonhar acordado, não prestava mais atenção em nada e passava o tempo todo em seu quarto com seu coelho de pelúcia. Então o levaram ao medico, exames foram feitos, injeções, cápsulas vermelhos e azuis, pequenos comprimidos rosados em forma de discos antes de dormir. Sonos pesados, sem sonhos. Ele nunca mais voltara a sonhar, e acabou esquecendo...

O coelho corria rápido, Daniel estava ofegante e não conseguia falar ziguezagueando pelos infinitos degraus, até que de repente o coelho saltou puxando junto com ele Daniel e caíram numa escuridão profunda, até que tudo ficou azul, era o céu, num azul tão intenso que chegava a doer os olhos. Musica, uma fanfarra tocando ao longe, e num imenso campo de grama fresca e verdejante eles caíram.

Daniel observava tudo com espanto, seu coração batendo forte, ele conhecia aquele lugar, seu coração apertado, há tanto tempo não ia lá. - “Como era mesmo o nome?”- Pensou Daniel encantado.

-Meu amigo... - Disse o coelho Lino empolgado. – bem-vindo de volta a Sonhar.

-Sonhar!... – Sussurrou Daniel, como alguém que se lembra de algo há muito perdido na memória.

-Vamos, vamos, meu amigo, a festa já começou.

- Que festa?

- Aquela festa. – Apontou Lino para um grande circo que fora armado num vale próximo, de lá vinha a musica e muitos risos também. – Vamos, nós estamos atrasados! – Então os dois saíram correndo pelo campo até chegarem ao circo.

Palhaços, malabaristas, mágicos e guloseimas de todos os tipos e sabores, tudo a vontade, era só se divertir, e foi o que fizeram, e muitos outros vinham cumprimentá-los e se alegraram com a volta de Daniel, pois o conheciam. “Bem vindo a Sonhar” – Dizia a faixa à cima.

Mas então, de repente Daniel ficou parado, estático, seus olhos úmidos contemplaram a beleza daquela jovem que se aproximava num lindo vestido branco de gala com uma espécie de colete vermelho bordado. Sua pele branquinha reluzia a luz do sol, seus longos cabelos louros embalados pelo vento dançavam no ar e um sorriso nos lábios rosados brotou ao ver Daniel.

- Amanda! – Disse Daniel, ele agora se lembrava de tudo, principalmente de Amanda. Os dois foram de encontro e suas mãos se juntaram, e então deram um terno abraço.

- Achei que nunca mais o veria. – Disse Amanda com olhos brilhantes. – Que bom que você voltou.

- Me desculpe, eu nunca abandonaria você, digo..., Sonhar. – Falou Daniel constrangido. – Mas foi mais forte do que eu, tantos remédios, exames, médicos...

- Não fale, não deixe com que suas experiências ruins impeçam você de sonhar. – Disse Amanda assustada levando a mão aos lábios de Daniel, mas já era tarde demais.

Um tremor sacudiu todo o terreno fazendo com que todos se exaltassem, então outro e outro. Eram passos. E surgindo de trás das tendas à figura gigantesca de um velho se ergueu acima de todos; alto, esguio, com um vasto bigode grisalho e olhos austeros. Ao seu lado surgiu também à figura disforme dos pais de Daniel, como caricaturas dos originais, sua mãe em prantos com a cabeça sobre os ombros de seu pai que o olhava com indignação. O gigantesco médico levou a mão manchada até Daniel e o agarrou pelo pé puxando-o em sua direção e então, abrindo sua bocarra, engoliu o garoto de uma só vez.

- NÃO – Gritou Amanda desesperada. – Daniel não desista, não desista de Sonhar...

Daniel passivamente caiu na escuridão. Seu corpo flácido como uma boneca de pano, caia girando lentamente no breu, até que ele mergulhou em águas profundas, mas mesmo assim passivo, seu corpo afundou como uma pedra até chegar ao fundo e ali ele ficou imóvel...

“Não desista de Sonhar!”

Ele ouviu as palavras de Amanda ecoar em sua mente, seus olhos se abriram, ele olhou em volta, e então, tomado por um novo animo Daniel se ergueu e viu que o lago que parecia tão profundo não passava de sua canela, e ele correu, correu desabalado pela escuridão que o envolvia densa, como que coberta por teias de aranhas. Até que um clarão ardeu em seus olhos. Daniel estava agora num árido e plano deserto, ele caminhou, caminhou e caminhou, sem saber aonde ir, até que viu ao longe uma cama de ferro solitária na imensidão amarelada do deserto e chegando até a cama, viu a si próprio dormindo profundamente e sem sonhos.

- É você quem decide Daniel, – Disse a voz amável de Amanda que estava logo atrás dele com o coelho Lino, – ninguém pode impedi-lo de sonhar, ninguém pode levá-lo de Sonhar.

Daniel olhou a si próprio na cama, uma figura apática, manipulável.

“Eu fico em Sonhar”.

Grande alegria causou em seus amigos que o abraçaram e fizeram uma grande festa, e nunca mais ele deixou Sonhar e seus sonhos eram grandiosos.



FIM, OU UM NOVO COMEÇO...



Wagner de Souza







A Epopeia do Arco Ocidental




Sinopse





Os antigos deuses e suas criaturas, que outrora habitavam a Terra, foram exilados em um novo mundo com a chegada do Grande Deus que baniria da Terra dos Homens todas as criaturas indesejadas por Ele, mas junto com eles, homens também partiram para essa nova Terra. Agora, após séculos, um mago chamado Altimeom da Casa de Siridirom recebe um estranho chamado em sonho para buscar uma antiga relíquia, A Chave do Portal dos Mundos. Mas o que esse mago não esperava era que ele enfrentaria um homem capaz de tudo para defender suas ideologias, um inquisidor, nos primórdios dessa nova ordem, e esse inesperado encontro desencadearia um perigo mortal que abalaria a estrutura de todo um continente e de seus reinos.

Em um mundo distante um homem renasce no corpo de um natimorto sob a influência do demônio Baalzebub, e se erguendo como rei, domina todas as Terras do Norte do Arco Ocidental, numa guerra implacável. Agora, Drakon, Senhor do Norte, pretende estender seus domínios sombrios para todos os povos livres do Arco Ocidental.

Mas os Homens Livres do Arco Ocidental não serão subjugados tão facilmente, e liderados por Adel Humberate, rei de Forte Verde, e pelo mago Altimeom, travarão uma guerra sangrenta que durará anos. Mas os homens não estão sozinhos nessa empreitada contra um mal desconhecido que se ergue em suas terras, e junto a eles dois bravos povos se unirão: os fortes e altos panaceus e os poderosos nefelins, seres alados, descendentes bastardos dos anjos, e juntos defenderão a liberdade dos povos do Arco Ocidental. Mas Drakon é poderoso e este, não quer apenas dominar essa terra, seu maior intento é se tornar um deus.

Um rei determinado a tudo para defender a liberdade de seu povo e o amor de uma mulher; homens valentes de povos distintos se unindo para defender sua liberdade. Deuses, dragões, gigantes, demônios, fantasmas e um enorme exército de lobisomens se confrontam numa terra cheia de mistérios e magia.

Tudo isso você verá em “A Epopéia do Arco Ocidental” primeiro livro de Wagner de Souza. Uma aventura fantástica repleta de seres mitológicos e bravos guerreiros. Escolha o seu lado e se prepare para a guerra.

 Compre aqui o livro 'A Epopeia do Arco Ocidental'

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A TERCEIRA LEI







O delegado do 26º Departamento de Polícia de São Miguel Arcanjo, doutor Cesar Alvarenga,  encara o homem a sua frente; o rosto apático e pálido como uma vela derretida suportando com esforço as armações grossas dos óculos sobre o nariz adunco e rechonchudo.

O homem é um respeitado cidadão, frequentador dominical da mesma igreja do delegado que escuta sua confissão. Dentista bem sucedido, bom marido, excelente pai...

Mas essa noite o dentista liberou todo o seu ódio, como que liberando uma besta primordial que habita no interior mais sombrio de cada homem. Há uma hora o dentista entrou arrastando um homem pelos corredores recém encerados da delegacia deixando um rastro de sangue para trás.

O delegado o observa: as unhas ainda sujas pelo sangue coagulado, a camisa branca esgarçada pende parcialmente para fora das calças de sarja cuidadosamente engomadas. Os olhinhos comprimidos pelas largas bochechas perderam o brilho singelo e simpático de outrora.

Um metro e noventa centímetros sobre sapatos finos cobertos por lama e esterco. Cento e vinte quilos de ira destrutiva.

O homem trazido por ele tinha quase a metade de seu porte, um pobre diabo, uma sombra.

“Eu paguei quinze mil para os policiais me trazerem ele.” Disse o dentista em transe.

“Ele”, era o zelador de uma escola particular, trabalhava a troco de um salário mínimo e um quartinho para morar.

Os quinze mil pagos aos policiais, (esses teriam trazido o zelador por um terço desse valor) cujos nomes o dentista se negou veementemente revelar, estava sendo economizado para a faculdade de seu filho.

A obrigação do zelador era manter os pisos limpos.

O dentista disse que quando o zelador acordou sua primeira reação foi sorrir.

O zelador deveria limpar os banheiros após os intervalos das aulas.

Mas a expressão dele logo mudou ao ver-se nu amarrado numa cadeira em um barracão escuro, as pernas de forma a ficarem abertas, os testículos flácidos espalhados pelo acento, os olhos brilhantes e apavorados dele iluminavam o celeiro.

Os banheiros da escola deveriam ser limpos antes da entrada dos alunos e após a saída.

A faca afiada passou pela glande do pênis do zelador cortando-a ao meio com facilidade. “Senhor me ajude!” Gritou apavorado chacoalhando-se na cadeira. Mas suas preces foram ignoradas, e sem mover um músculo se quer de sua face, o dentista decepou o pênis cortando-o lentamente ao som dos gritos e das lamurias do zelador que implorava a piedade de Deus e depois a do dentista.

No quartinho do zelador não havia TV, nem rádio e nem revistas. Regras da igreja a qual pertencia desde criança e a qual seu pai fora pastor.

Ofegante, ele observa seu pênis mutilado na mão do dentista que abruptamente precipita-se sobre o zelador enfiando o membro em sua boca fazendo-o engolir sob protestos de ânsias de vomito e lágrimas convulsivas, o pênis para em sua garganta recusando-se a ser engolido por seu próprio dono.

A única coisa que há no quartinho do zelador é uma bíblia gasta e cheia de orelhas que ele lê todas as noites até seus olhos não aguentarem mais.

O dentista vai até um fogão a lenha aceso no fundo do barracão e pega uma barra de ferro fumegante. O sangue jorra do ferimento aberto onde a pouco havia seu pau. Esgotado, o zelador vê mais uma vez a figura do homenzarrão se avolumando para cima dele, o ferro em brasa ilumina parcialmente de vermelho o rosto do dentista como se o próprio Satã viesse buscá-lo.

Dentro da bíblia do zelador há uma foto de sua mãe.

É trabalho do zelador garantir que todas as portas estejam trancadas após as aulas.

“Perdoe-me!” Implora ele sofrendo.

O dentista ignora as suplicas do zelador e abruptamente enfia o ferro em brasa no ferimento aberto para cauterizar a ferida, os gritos abafam o chiado do ferro quente sobre a pele. O dentista não quer que ele morra por hemorragia.

O cheiro da carne queimada lembra o dentista que ele precisa comprar carne para o churrasco do aniversário do filho.

A dor é tamanha que o zelador entra em choque. Ele desmaia.

As bebidas já foram compradas, cerveja para os adultos, refrigerante para as crianças, será uma grande festa.

O dentista chuta a cadeira derrubando o zelador de cara no chão. Com um pincel-atômico vermelho ele identifica a medula espinhal da terceira a quinta vértebra cervical.

É responsabilidade do zelador controlar todo o material de limpeza.

O dentista olha o barracão de seu sitio e pensa que precisa arrumá-lo ainda essa semana para a festa.

O zelador acorda pedindo a Deus que seja só um pesadelo. Não é!

Ele percebe nos olhos do dentista a total falta de sentimentos então para de implorar, ele conhece aquele olhar, pois já o vira nos olhos de seu pai quando matou a esposa adultera. O zelador deita sua cabeça no chão frio e silencia.

É responsabilidade do zelador desentupir ralos e vasos sanitários.

O dentista pega uma pá e ergue acima de sua cabeça.

O zelador deve eliminar todos os vazamentos.

Num só golpe a pá acerta seu alvo cortando a coluna vertebral, ele escuta um gemido curto e dolorido depois o silêncio.

O delegado observa o rosto cadavérico do dentista e enxuga a testa com um lenço. “Vá para casa!” Disse o delegado “Sua esposa deve estar preocupada, deixa que nós limpamos essa bagunça.”

Como uma criança liberada do castigo o dentista levanta seu corpanzil e sai porta afora.

O delegado irá dizer que encontraram o zelador numa estrada qualquer e arquivará o caso. Ninguém o questionará. Ninguém se importa.

Já o zelador não fará mais nenhuma de suas funções, a lesão na sua coluna o deixou tetraplégico e agora passa seus longos dias abandonado numa cama alimentado por sondas e usando fraldas geriátricas.

O delegado abre uma pasta sobre a mesa e vê a foto do zelador seguida de seus dados pessoais. Em destaque a palavra: FORAGIDO. Seu crime: o zelador deixou de fazer suas simples tarefas cotidianas na escola onde trabalhava e também onde estudava o filho de dentista que iria fazer oito anos na semana que vem. O zelador sequestrou, violentou e esquartejou o filho do dentista.



Uma nova forma de expressão

Após algum tempo sem nada postar em meu blog e quase tê-lo removido, volto agora, mas com outras coisas.


Devido a um problema no espaço/tempo de minha vida, pouco, ou quase nada, produzi em termos de artes visuais, seja desenhos, pinturas ou qualquer rascunho que seja, nem mesmo um rabisco.

Acho que alguma coisa dentro de mim mudou, pois, após anos me dedicando aos desenhos e depois a pintura, como se um vento forte me soprasse por um mar escuro, vejo-me agora numa total calmaria de céu azul. Talvez por um desses casos da vida que eu bem os reconheço, eu agora não tenho vontade de desenhar mais, não quero pintar mais nada. Minha criatividade agora é um papel em branco. Não que será assim para sempre, mas, uma nova paixão brota em mim, uma paixão que há muito venho cultivando, uma paixão que, talvez, nascera junto com minha paixão pelas Artes-Plásticas, mas que crescera lentamente dentro de mim. Mas agora após escrever meu primeiro livro, A Epopeia do Arco Ocidental, essa paixão se tornou predominante, tanto que larguei o curso de Artes-Plásticas, pois não sobraria tempo de escrever e havia um outro livro, e contos e poemas que martelavam em minha mente como se minha cabeça fosse o próprio tambor de guerra dos gigantes de Drakon, pois queria ser escritos. E eu queria escrever, cada vez mais queria escrever e não pintar, talvez eu só tenha mudado a forma de me expressar, ao invés de lápis e tintas agora eu uso palavras. AAAAAH! e como me sinto bem.

No entanto, isso não quer dizer que eu não irei fazer mais nada relacionado, as Artes-Plásticas para mim é uma paixão. É como um namoro malacabado onde você sempre flérta com a ex quando a encontra.

As Artes-plásticas para mim será agora como uma amante.

Wagner R. Souza