Em um tribunal:
Entra o Promotor Público soberbo ao som do burburinho da platéia e das marteladas do enorme e carrancudo juiz. Ao lado esquerdo desse, o réu observa tudo passivamente.
Amarrado e amordaçado em sua mesa o Advogado de Defesa geme e esperneia.
PROMOTOR PÚBLICO:
Senhoras e Senhores. Apresentar-vos-ei o Réu!
Esse verme hostil de conduta errante.
Em suas veias corre o álcool e em seus pulmões o tabaco.
Devorador carnívoro se deleita em gorduras e açucares devorando toda a sobremesa posta à mesa.
E nos churrascos com cerveja, se farta em gula e bebedeira.
Esse verme libertino e beberrão passou a vida em bares e festas e não se enganem com sua aparência de bom moço, bonito galanteador, pois como um voraz carnívoro, comeria facilmente sua mãe, sua irmã e seu amor. Pois é sabido de seus casos de fornicação até com mulheres casadas. (Pobres senhoras!) Ludibriadas por juras de amor.
ALGUÉM DA PLATEIA:
CASTREM O VERME!
PLATEIA (enfurecida):
CASTREM O VERME!
CASTREM O VERME!
CASTREM O VERME!
JUIZ (malhando o martelo na mesa):
SILÊNCIO!
SILÊNCIO!
PROMOTOR PÚBLICO:
O senhor tem algo a dizer em sua defesa?
RÉU:
Bem, eu...
PROMOTOR PÚBLICO:
Cale-se! Verme desprezível, ou acha que deixarei que dissemine seu veneno assim como disseminou seu sêmen. Pois saibam, meus bons amigos, que em suas palavras tem o mesmo veneno que as palavras da serpente que envenenaram a mente da belíssima Eva no jardim do
Éden, e condenou seu corpo nu de coxas grossas e... Seios fartos... E...
Oh... Eva...
PADRE (na platéia):
Promotor Público, por favor. Contenha-se!
PROMOTOR PÚBLICO:
Pois saibam que ele gritou aos sete ventos que detesta o trabalho e quer ser artista. Vejam só!
PLATEIA:
Oooh!
PROMOTOR PÚBLICO:
E preferiu ver Calígula ao assistir o ultimo capitulo da novela.
PLATÉIA:
Oooh!
PROMOTOR PÚBLICO:
E preferiu se embebedar em festas e em boates ao ficar em casa no sábado à noite.
PLATEIA:
Oooh!
PROMOTOR PÚBLICO:
E ele ouve Rock e Jazz. E lê Nietzsche, Marx e Bukowski.
PLATEIA:
Oooh!
PROMOTOR PÚBLICO:
E todos os domingos de manhã quando nós saímos cabisbaixos e sonolentos pelas ruas para irmos à igreja, ele dorme nu com uma desconhecida qualquer.
PLATÉIA (furiosa):
CASTREM O VERME!
CASTREM O VERME!
CASTREM O VERME!
JUIZ (espancando a mesa):
SILÊNCIO!
SILÊNCIO!
Diante das acusações aqui apresentadas e da falta de empenho da defesa. O Réu é considerado CULPADO pelos crimes de:
LIBERTINAGEM, PRETENSÃO À INTELIGÊNCIA E EMBRIAGUES PUBLICA (visto que a embriagues domiciliar é aceitável, é claro!).
Por isso será condenado a viver o resto de sua vida COMO NÓS!
RÉU:
Nãaaaaoooo! Escute seu juiz, meritíssimo. Eu não fiz nada se errado só queria viver minha vida e aproveitá-la. Ainda sou muito jovem não me condene a VIVER COMO VOCÊEESSS.
JUIZ (batendo o martelo):
Está decidido. Sessão encerrada.
PLATEIA: VIVERÁ COMO NÓS!
VIVERÁ COMO NÓS!
VIVERÁ COMO NÓS!