O que querem aqueles
seres novos que surgiram pintados nas paredes?
Destacaram-se e inflaram-se em postos de
gasolina, depois deglutiram todo tipo de alimentos industrializados fazendo do
sódio sua fonte vital.
Absorveram tudo o que a TV lhes
proporcionava.
E tudo o que tocava no rádio.
Misturando em suas cabeças de balão amarela,
com seus rostos pouco expressivos e aqueles olhinhos miúdos de ervilha em
conserva.
Regurgitaram seus conhecimentos na internet
para absorverem todo o conteúdo novamente (e mais).
Seres ruminantes de ideias mutantes. Dedos
ágeis e memória de longo prazo baixíssima.
Criou assim uma nova espécie, uma nova
comunidade isolada em indivíduos que raramente se encontravam.
Não fumavam, não bebiam e raro era o sexo.
Um novo idioma muito parecido com o usual,
mas não, não se entende...
Alguns Teóricos do Caos Conspiratório dizem
que eles dominaram o mundo e nós nem percebemos, tão preocupados que estamos
com nossas coisas que, quando apareceram aqueles homúnculos amarelos e
inflados, quase que abstratos, ninguém se importou com eles. Nem mesmo as
Agencias Governamentais do Mundo deram atenção.
“Por Deus! São só coisinhas amarelas.”
Agora eles estão por toda a parte saindo de
suas casas baratas, alugadas, apartamentos de subsolo, periferias...
Invadiram as ruas aos milhares (ninguém
imaginava haver tantos) andando todos juntos na mesma direção com seus olhos
indiferentes aos que os observavam, usando aquelas roupas habituais que mais se
assemelham a pijamas.
E muitos indagam se nada será feito,
“Prendam eles!” – gritam outros. Mas não há motivo para detê-los, não há nada
contra eles! São isento de qualquer crime.
Os Teóricos da Conspiração e os paranoicos dizem
que eles têm o dom de permanecerem ocultos, imperceptíveis, e quando menos se
espera, fazem parte de seu meio social, de sua vida! Estão no trabalho, na
escola, servindo-te, servindo a eles, tornando-se parte da paisagem: como uma
pinta na pele, o primeiro fio de cabelo branco, ou aquela ruga que aparece
sorrateira no canto dos olhos.
Eles seguiram ininterruptos por seus
caminhos, lotaram as ruas num mesmo sentido, todos juntos como nunca estiveram
antes. Um rio amarelo que escoa sem barreiras para um objetivo certo e oculto
aos espectadores deste êxodo dourado.
Assim eles foram...
Dizem também os “entendidos” que eles
levaram algo muito importante daqui, algo precioso, poderoso... Mas até agora
ninguém sabe o que é – isso se realmente levaram!
Mas o que todos sabemos é que da mesma forma
que surgiram, desapareceram. Sem deixar pistas ou vestígios... Apenas...
Desapareceram.