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domingo, 30 de março de 2014

Aqueles Seres Amarelos



O que querem aqueles seres novos que surgiram pintados nas paredes?
   Destacaram-se e inflaram-se em postos de gasolina, depois deglutiram todo tipo de alimentos industrializados fazendo do sódio sua fonte vital.
   Absorveram tudo o que a TV lhes proporcionava.
   E tudo o que tocava no rádio.
   Misturando em suas cabeças de balão amarela, com seus rostos pouco expressivos e aqueles olhinhos miúdos de ervilha em conserva.
   Regurgitaram seus conhecimentos na internet para absorverem todo o conteúdo novamente (e mais).
   Seres ruminantes de ideias mutantes. Dedos ágeis e memória de longo prazo baixíssima.
   Criou assim uma nova espécie, uma nova comunidade isolada em indivíduos que raramente se encontravam.
   Não fumavam, não bebiam e raro era o sexo.
   Um novo idioma muito parecido com o usual, mas não, não se entende...
   Alguns Teóricos do Caos Conspiratório dizem que eles dominaram o mundo e nós nem percebemos, tão preocupados que estamos com nossas coisas que, quando apareceram aqueles homúnculos amarelos e inflados, quase que abstratos, ninguém se importou com eles. Nem mesmo as Agencias Governamentais do Mundo deram atenção.
   “Por Deus! São só coisinhas amarelas.”
   Agora eles estão por toda a parte saindo de suas casas baratas, alugadas, apartamentos de subsolo, periferias...
   Invadiram as ruas aos milhares (ninguém imaginava haver tantos) andando todos juntos na mesma direção com seus olhos indiferentes aos que os observavam, usando aquelas roupas habituais que mais se assemelham a pijamas.
   E muitos indagam se nada será feito, “Prendam eles!” – gritam outros. Mas não há motivo para detê-los, não há nada contra eles! São isento de qualquer crime.
   Os Teóricos da Conspiração e os paranoicos dizem que eles têm o dom de permanecerem ocultos, imperceptíveis, e quando menos se espera, fazem parte de seu meio social, de sua vida! Estão no trabalho, na escola, servindo-te, servindo a eles, tornando-se parte da paisagem: como uma pinta na pele, o primeiro fio de cabelo branco, ou aquela ruga que aparece sorrateira no canto dos olhos.
   Eles seguiram ininterruptos por seus caminhos, lotaram as ruas num mesmo sentido, todos juntos como nunca estiveram antes. Um rio amarelo que escoa sem barreiras para um objetivo certo e oculto aos espectadores deste êxodo dourado.
   Assim eles foram...
   Dizem também os “entendidos” que eles levaram algo muito importante daqui, algo precioso, poderoso... Mas até agora ninguém sabe o que é – isso se realmente levaram!
   Mas o que todos sabemos é que da mesma forma que surgiram, desapareceram. Sem deixar pistas ou vestígios... Apenas... Desapareceram.